"A felicidade do escritor é o pensamento que consegue transformar-se completamente em sentimento, é o sentimento que consegue transformar-se completamente em pensamento."
“As mulheres ocupavam-se com seus assuntos menores, seus anseios, não reles em tamanho, pois dessa delicada fímbria feminina é que são feitas as famílias e, por conseguinte, a vida; falavam dos filhos, do calor do verão, dos partos recentes; tinham um olho posto nas conversas, os risos doces, a alegria; porém, com o outro fitavam seus homens: tudo o que lhes faltasse, de comer ou de beber, do corpo ou da alma, eram elas que proviam”.
“Do mesmo sonho que se viva, também se podia morrer”
"Foi um dia memorável, pois operou grandes mudanças em mim. Mas isso se dá com qualquer vida. Imagine um dia especial na sua vida e pense como teria sido seu percurso sem ele. Faça uma pausa, você que está lendo, e pense na grande corrente de ferro, de ouro, de espinhos ou flores que jamais o teria prendido não fosse o encadeamento do primeiro elo em um dia memorável".
"Gastamos tanto dinheiro quanto podíamos e ainda conseguimos o pouco que as pessoas concordavam em nos dar. Éramos sempre mais ou menos miseráveis, e a maior parte dos nossos conhecidos estava na mesma situação. Existia entre nós uma alegre ilusão de que estávamos sempre nos divertindo, e uma sombra de verdade de que nunca nos divertíamos. Até onde podia perceber, em última análise, o nosso caso era bastante comum".
Dexter Mayhew e Emma Morley se conheceram em 1988. Ambos sabem que no dia seguinte, após a formatura na universidade, deverão trilhar caminhos diferentes. Mas, depois de apenas um dia juntos, não conseguem parar de pensar um no outro. Os anos se passam e Dexter e Emma levam vidas isoladas - vidas muito diferentes daquelas que eles sonhavam ter. Porém, incapazes de esquecer o sentimento muito especial que os arrebatou naquela primeira noite, surge uma extraordinária relação entre os dois. Ao longo dos vinte anos seguintes, flashes do relacionamento deles são narrados, um por ano, todos no mesmo dia - 15 de julho.
Trechos do livro:
"... sentiu um extremecimento de aversão em relação a ele que a tranquilizou."
"Devia haver bastante diversão e pouca tristeza, não mais que o absolutamente necessário".
"Jornalismo implicava travar uma árdua batalha com coisas difíceis, como palavras e ideias".
"O fracasso e a infelicidade são mais fáceis, porque você pode fazer piada com isso".
"Se as pessoas tratassem enfermagem, serviço social ou lecionar com o mesmo respeito com que tratam a mídia..."
"Claro que não tinha o brilho artístico da fotografia ou a credibilidade de um correspondente de guerra, mas televisão era uma coisa importante. Televisão era o futuro. Democracia na prática, chegava à vida das pessoas de maneira imediata, formava opiniões, provocava, entretinha e envolvia de um jeito mais eficaz do que todos aqueles livros que ninguém lia ou peças que ninguém ia".
"Havia dinheiro na mídia: esse fato transparecia nos escritórios arejados e de cores primárias, com seus sistemas de computadores ultramodernos e generosas geladeiras comunitárias".
"E tem dias que a gente acorda e tudo está perfeito".
"Em Londres o ar era uma coisa que se podia enxergar, como um aquário mal cuidado".
"A inveja é uma espécie de imposto que se paga pelo sucesso".
"Porém, ficar olhando para alguém e conversar até perceber que o dia está amanhecendo? Quem tem tempo ou energia para conversar a noite toda agora? Sobre o que falariam? Preços dos imóveis? Houve época em que esperava ansiosamente que o telefone tocasse à meia-noite, hoje em dia o telefone só toca tarde da noite no caso de algum acidente. E será que precisavam de mais fotografias, quando se lembravam tão bem do rosto um do outro e tinham caixas de sapatos cheias de fotos, um arquivo de quase vinte anos? Quem escreve longas cartas hoje em dia e nessa idade, e qual a razão para se preocupar tanto?"
"Não, esta era a vida real, e era normal não se sentir mais tão curiosa ou apaixonada como no passado. Aos trinta e oito anos, seria inapropriado, indigno, ter amizades ou casos de amor com o mesmo intusiasmo e a intensidade de uma garota de vinte e dois. Apaixonar-se daquele jeito? Escrever poemas, chorar ouvindo uma música pop? Arrastar pessoas para dentro de cabines fotográficas, levar um dia inteiro para gravar uma seleção de músicas numa fita, perguntar às pessoas se queriam dormir com ela só para fazer companhia? Se hoje em dia você citasse Bob Dylan, T.S. Eliot ou, Deus me livre, Brecht para alguém, a resposta seria um sorriso formal e um passo atrás, e quem poderia culpá-los? Ridículo, aos trinta e oito anos, esperar que uma canção, um livro ou filme mudem a sua vida. Não, tudo agora estava assentado e estabelecido, e a vida era levada num clima geral de conforto, satisfação e familiaridade. Não haveria mais enervantes altos e baixos. Os amigos de agora eram os amigos que teriam em cinco, dez, vinte anos. Não tinham esperança de se tornar muito mais ricos ou pobres, só queriam continuar saudáveis por algum tempo ainda. Encontravam-se na média: classe média, meia-idade, felizes com a felicidade possível".
"É onde tudo começa. Tudo começa aqui, hoje".
"... e se eu pudesse te dar só um presente para o resto da sua vida seria este. Confiança".
Lina Vilkas é uma lituana de 15 anos cheia de sonhos. Dotada de um incrível talento artístico, ela se prepara para estudar artes na capital. No entanto, a noite de 14 de junho de 1941 muda para sempre seus planos. Por toda a região do Báltico, a polícia secreta soviética está invadindo casas e deportando pessoas. Junto com a mãe e o irmão de 10 anos, Lina é jogada num trem, em condições desumanas, e levada para um gulag, na Sibéria. Lá, os deportados sofrem maus-tratos e trabalham arduamente para garantir uma ração ínfima de pão. Nada mais lhes resta, exceto o apoio mútuo e a esperança. E é isso que faz com que Lina insista em sua arte, usando seus desenhos para enviar mensagens codificadas ao pai, preso pelos soviéticos.
Trechos do livro:
"Durante aqueles períodos de silêncio, eu me agarrava a meus velhos sonhos. Era sob a mira de uma arma que eu abraçava todas as esperanças e me permitia desejar do fundo do coração. Komorov acreditava estar nos torturando. Mas fugíamos para uma imobilidade bem dentro de nós. Ali encontrávamos força".
"A expressão em seus rostos era uma canção de derrota".
"Enquanto desenhava, pensei em Munch e em sua teoria segundo a qual a dor, o amor e o desespero eram elos de uma corrente infinita".
"Segurei minha sacola para proteger os livros. Não podia deixá-la balançar e bater, como de costume. Afinal de contas, ali dentro estava Edvard Munch. Eu havia esperado quase dois meses para minha professora receber os livros, que finalmente chegaram de Oslo. Sabia que meus pais não iriam gostar de Munch nem de seu estilo, que alguns chamavam de 'arte degenerada'. No entanto, assim que vi as fotos de Ansiedade, Desespero e O grito, tive que ver mais. As obras de Munch eram disformes, distorcidas, como se tivessem sido pintadas em meio à neurose. Fiquei fascinada".
"Passamos a nos conhecer graças a nossos anseios e a nossas preciosas lembranças".
"Agora eu sabia como Edvard Munch se sentia. 'Pinte o que vê', dissera ele. 'Mesmo que o dia esteja ensolarado e você só veja escuridão e trevas. Pinte o que vê'. Tornei a piscar os olhos. Não posso, pensei. Não posso pintar o que vejo".
"A psicologia de terror de Stalin parecia ter por base o fato de nunca se saber o que esperar".
"Um comentário feito na margem por um crítico de arte dizia: 'Munch é antes de tudo um poeta lírico das cores. Ele sente as cores, mas não as vê. Em seu lugar vê tristeza, pranto e ruína'. Tristeza, pranto e ruína. Eu também via isso em Cinzas. Achava a obra genial".
"Na Sibéria só havia dois desfechos possíveis. Sucesso significava sobrevivência. Fracasso significava morte. Eu queria sobreviver".