segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Tonight I can write... Pablo Neruda




Tonight I can write the saddest lines.

Write, for example,'The night is shattered
and the blue stars shiver in the distance.'

The night wind revolves in the sky and sings.

Tonight I can write the saddest lines.
I loved her, and sometimes she loved me too.

Through nights like this one I held her in my arms
I kissed her again and again under the endless sky.

She loved me sometimes, and I loved her too.
How could one not have loved her great still eyes.

Tonight I can write the saddest lines.
To think that I do not have her. To feel that I have lost her.

To hear the immense night, still more immense without her.
And the verse falls to the soul like dew to the pasture.

What does it matter that my love could not keep her.
The night is shattered and she is not with me.

This is all. In the distance someone is singing. In the distance.
My soul is not satisfied that it has lost her.

My sight searches for her as though to go to her.
My heart looks for her, and she is not with me.

The same night whitening the same trees
We, of that time, are no longer the same.

I no longer love her, that's certain, but how I loved her.
My voice tried to find the wind to touch her hearing.

Another's. She will be another's. Like my kisses before.
Her voide. Her bright body. Her inifinite eyes.

I no longer love her, that's certain, but maybe I love her.
Love is so short, forgetting is so long.

Because through nights like this one I held her in my arms
my sould is not satisfied that it has lost her.

Though this be the last pain that she makes me suffer
and these the last verses that I write for her.

What is poetry?

"If I read a book and it makes my whole body so cold no fire can ever warm me, I know that is poetry." Emily Dickinson

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Thomas Mann

"A felicidade do escritor é o pensamento que consegue transformar-se completamente em sentimento, é o sentimento que consegue transformar-se completamente em pensamento."

A CASA DAS SETE MULHERES - Leticia Wierzchowski

“As mulheres ocupavam-se com seus assuntos menores, seus anseios, não reles em tamanho, pois dessa delicada fímbria feminina é que são feitas as famílias e, por conseguinte, a vida; falavam dos filhos, do calor do verão, dos partos recentes; tinham um olho posto nas conversas, os risos doces, a alegria; porém, com o outro fitavam seus homens: tudo o que lhes faltasse, de comer ou de beber, do corpo ou da alma, eram elas que proviam”.

“Do mesmo sonho que se viva, também se podia morrer”

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

GRANDES ESPERANÇAS - Charles Dickens

"Foi um dia memorável, pois operou grandes mudanças em mim. Mas isso se dá com qualquer vida. Imagine um dia especial na sua vida e pense como teria sido seu percurso sem ele. Faça uma pausa, você que está lendo, e pense na grande corrente de ferro, de ouro, de espinhos ou flores que jamais o teria prendido não fosse o encadeamento do primeiro elo em um dia memorável".

"Gastamos tanto dinheiro quanto podíamos e ainda conseguimos o pouco que as pessoas concordavam em nos dar. Éramos sempre mais ou menos miseráveis, e a maior parte dos nossos conhecidos estava na mesma situação. Existia entre nós uma alegre ilusão de que estávamos sempre nos divertindo, e uma sombra de verdade de que nunca nos divertíamos. Até onde podia perceber, em última análise, o nosso caso era bastante comum".

UM DIA - David Nicholls

Sinopse:
Dexter Mayhew e Emma Morley se conheceram em 1988. Ambos sabem que no dia seguinte, após a formatura na universidade, deverão trilhar caminhos diferentes. Mas, depois de apenas um dia juntos, não conseguem parar de pensar um no outro. Os anos se passam e Dexter e Emma levam vidas isoladas - vidas muito diferentes daquelas que eles sonhavam ter. Porém, incapazes de esquecer o sentimento muito especial que os arrebatou naquela primeira noite, surge uma extraordinária relação entre os dois. Ao longo dos vinte anos seguintes, flashes do relacionamento deles são narrados, um por ano, todos no mesmo dia - 15 de julho.


Trechos do livro:

"... sentiu um extremecimento de aversão em relação a ele que a tranquilizou."

"Devia haver bastante diversão e pouca tristeza, não mais que o absolutamente necessário".

"Jornalismo implicava travar uma árdua batalha com coisas difíceis, como palavras e ideias".

"O fracasso e a infelicidade são mais fáceis, porque você pode fazer piada com isso".

"Se as pessoas tratassem enfermagem, serviço social ou lecionar com o mesmo respeito com que tratam a mídia..."

"Claro que não tinha o brilho artístico da fotografia ou a credibilidade de um correspondente de guerra, mas televisão era uma coisa importante. Televisão era o futuro. Democracia na prática, chegava à vida das pessoas de maneira imediata, formava opiniões, provocava, entretinha e envolvia de um jeito mais eficaz do que todos aqueles livros que ninguém lia ou peças que ninguém ia".

"Havia dinheiro na mídia: esse fato transparecia nos escritórios arejados e de cores primárias, com seus sistemas de computadores ultramodernos e generosas geladeiras comunitárias".

"E tem dias que a gente acorda e tudo está perfeito".

"Em Londres o ar era uma coisa que se podia enxergar, como um aquário mal cuidado".

"A inveja é uma espécie de imposto que se paga pelo sucesso".

"Porém, ficar olhando para alguém e conversar até perceber que o dia está amanhecendo? Quem tem tempo ou energia para conversar a noite toda agora? Sobre o que falariam? Preços dos imóveis? Houve época em que esperava ansiosamente que o telefone tocasse à meia-noite, hoje em dia o telefone só toca tarde da noite no caso de algum acidente. E será que precisavam de mais fotografias, quando se lembravam tão bem do rosto um do outro e tinham caixas de sapatos cheias de fotos, um arquivo de quase vinte anos? Quem escreve longas cartas hoje em dia e nessa idade, e qual a razão para se preocupar tanto?"

"Não, esta era a vida real, e era normal não se sentir mais tão curiosa ou apaixonada como no passado. Aos trinta e oito anos, seria inapropriado, indigno, ter amizades ou casos de amor com o mesmo intusiasmo e a intensidade de uma garota de vinte e dois. Apaixonar-se daquele jeito? Escrever poemas, chorar ouvindo uma música pop? Arrastar pessoas para dentro de cabines fotográficas, levar um dia inteiro para gravar uma seleção de músicas numa fita, perguntar às pessoas se queriam dormir com ela só para fazer companhia? Se hoje em dia você citasse Bob Dylan, T.S. Eliot ou, Deus me livre, Brecht para alguém, a resposta seria um sorriso formal e um passo atrás, e quem poderia culpá-los? Ridículo, aos trinta e oito anos, esperar que uma canção, um livro ou filme mudem a sua vida. Não, tudo agora estava assentado e estabelecido, e a vida era levada num clima geral de conforto, satisfação e familiaridade. Não haveria mais enervantes altos e baixos. Os amigos de agora eram os amigos que teriam em cinco, dez, vinte anos. Não tinham esperança de se tornar muito mais ricos ou pobres, só queriam continuar saudáveis por algum tempo ainda. Encontravam-se na média: classe média, meia-idade, felizes com a felicidade possível".

"É onde tudo começa. Tudo começa aqui, hoje".

"... e se eu pudesse
te dar só um presente
para o resto da sua vida seria este.
Confiança".







segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A vida em tons de cinza, de Ruta Sepetys

Sinopse:

Lina Vilkas é uma lituana de 15 anos cheia de sonhos. Dotada de um incrível talento artístico, ela se prepara para estudar artes na capital. No entanto, a noite de 14 de junho de 1941 muda para sempre seus planos. Por toda a região do Báltico, a polícia secreta soviética está invadindo casas e deportando pessoas. Junto com a mãe e o irmão de 10 anos, Lina é jogada num trem, em condições desumanas, e levada para um gulag, na Sibéria. Lá, os deportados sofrem maus-tratos e trabalham arduamente para garantir uma ração ínfima de pão. Nada mais lhes resta, exceto o apoio mútuo e a esperança. E é isso que faz com que Lina insista em sua arte, usando seus desenhos para enviar mensagens codificadas ao pai, preso pelos soviéticos.

Trechos do livro:

"Durante aqueles períodos de silêncio, eu me agarrava a meus velhos sonhos. Era sob a mira de uma arma que eu abraçava todas as esperanças e me permitia desejar do fundo do coração. Komorov acreditava estar nos torturando. Mas fugíamos para uma imobilidade bem dentro de nós. Ali encontrávamos força".

"A expressão em seus rostos era uma canção de derrota".

"Enquanto desenhava, pensei em Munch e em sua teoria segundo a qual a dor, o amor e o desespero eram elos de uma corrente infinita".

"Segurei minha sacola para proteger os livros. Não podia deixá-la balançar e bater, como de costume. Afinal de contas, ali dentro estava Edvard Munch. Eu havia esperado quase dois meses para minha professora receber os livros, que finalmente chegaram de Oslo.
Sabia que meus pais não iriam gostar de Munch nem de seu estilo, que alguns chamavam de 'arte degenerada'. No entanto, assim que vi as fotos de Ansiedade, Desespero e O grito, tive que ver mais. As obras de Munch eram disformes, distorcidas, como se tivessem sido pintadas em meio à neurose. Fiquei fascinada".


"Passamos a nos conhecer graças a nossos anseios e a nossas preciosas lembranças".

"Agora eu sabia como Edvard Munch se sentia. 'Pinte o que vê', dissera ele. 'Mesmo que o dia esteja ensolarado e você só veja escuridão e trevas. Pinte o que vê'. Tornei a piscar os olhos. Não posso, pensei. Não posso pintar o que vejo".

"A psicologia de terror de Stalin parecia ter por base o fato de nunca se saber o que esperar".

"Um comentário feito na margem por um crítico de arte dizia: 'Munch é antes de tudo um poeta lírico das cores. Ele sente as cores, mas não as vê. Em seu lugar vê tristeza, pranto e ruína'. Tristeza, pranto e ruína. Eu também via isso em Cinzas. Achava a obra genial".


"Na Sibéria só havia dois desfechos possíveis. Sucesso significava sobrevivência. Fracasso significava morte. Eu queria sobreviver".



quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Lituânia em tons coloridos

Depois de ler "A vida em tons de cinza" fui procurar fotos da Lituânia, especialmente a cidade de Kaunas, local onde a história de certa forma acontece. Digo certa forma, porque não conto com a Sibéria, região onde estava localizado os campos de refugiados.

Fico pensando como é possível um lugar que sofreu tanto com a invasão soviética ter resistido ao tempo, repleto de beleza?
Essa foi uma das histórias de guerra que mais me emocionou, e muito mais emocionante é observar essas imagens sabendo que esse lugar pertence a um povo que lutou, sofreu, mas em momento algum deixou de acreditar.


Deus abençoe a Lituânia!




















quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Mais Edvard Munch


Girl on a bridge

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Edvard Munch

Lendo "A vida em tons de cinza", de Ruta Sepetys, descobri Edvard Munch. Pintor norueguês e um dos precursores do expressionismo alemão.

"Quando passei em frente ao quadro, meus pés pararam de andar. Aquele rosto. Era fascinante, diferente de tudo o que eu já vira. Era o retrato de um rapaz feito em carvão. Os cantos de sua boca estavam virados para cima, mas, apesar do sorriso, a dor em sua expressão deixou meus olhos cheios de lágrimas. Os traços sutis de seus cabelos formavam um conjunto suave e ao mesmo tempo criavam fortes variações. Cheguei mais perto para ver melhor. Era perfeito. Como o artista havia conseguido imprimir tantos tons ao retrato sem uma pausa sequer, sem deixar nenhuma marca de dedo? Quem era aquele artista e quem era aquele rapaz? Olhei para a assinatura. Munch". (Trecho do livro)

Não sei qual é o quadro que a personagem cita na história, mas procurando conhecer as obras de Munch fiquei impressionada com o seguinte quadro, que segundo informações seria um auto-retrato do artista.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

The end - Marcelino Freire

Os caixões norte-americanos são melhores, ela me disse. E insistiu.

Eu que não conheço nada igual. Nunca viajei para outros mundos, eu não sei o que é a vida. Os caixões americanos são de primeira classe, o seu marido morreu por lá, teve essa sorte. Já morreu no céu, My God.

Disse-me mais: sobre veludos, cetins, nuvens envolvendo o defunto – a qualidade da madeira, a qualidade dos frisos, o verniz. Infinitamente eles enterram melhor, velam e zelam melhor. Choram melhor, entregam melhor os seus mortos à vida eterna – vida ainda mais rica do que essa que eles vivem, amém.

Deus é americano, ela me disse. Deus mora em cima daqueles prédios enormes de Nova York. Deus é King Kong, é Hollywood.

Disse-me e disse-me mil provas, mostrou mil estatísticas. Cada povo com sua técnica de assentar, encriptar, enlousar, recolher em sepultura, recolher na vala comum. “Welcome” ao que a terra há de comer não é pra todo mundo. Somos terceiro em tudo. Urubus subdesenvolvidos.

Deixa de drama, disse ela. Não estamos em guerra, nem severamente discutindo. A verdade é que os Estados Unidos unem como ninguém a matéria e o espírito. Sabem se importalizar. Talvez porque sejam também campeões em matar, têm tecnologia nuclear, brincam de enviar mísseis para todo lugar, detectam onde as bombas devem estourar – se aqui ou em Bagdá. Se em Kosovo ou Hiroshima. Vietnã, Moscou ou Pernambuco.

“Mas por que estamos perdendo tempo com iso?”, era assunto morto para ela. A morte sem mais mistérios. A morte é uma ciência, indiscutível.

Os americanos são os americanos, ponto final.

Respeitam o próximo, morto ou vivo. Indiferentes de nós, que não temos onde cair. Indiferentes de nós, pobres, coitados, mortais.

Haverá por lá alguém que tenha apenas uma rede para o último descanso? Duvido. Ou que, enrolado no jornal, seja incinerado no lixo?

Ela ficou em silêncio, fúnebre por um minuto.

Como serão nos Estados Unidos, por exemplo, os nossos caixões para recém-nascidos? Rosas, azuis, brancos?

Nós exportamos mortes de todo tipo, tamanho a tamanho. Fome, sede, frio. Pelas quintas, sextas avenidas. Corpos espalhados pela rua, caixotes pelo Nordeste do Brasil.

Calma, ela disse, calma. O que ela poderia fazer contra a realidade norte-americana? O fato é que lá tudo acaba bem, é um berço de ouro a cama funerária. Aqui os cemitérios vivem sem nenhum padrão, favelas de ossos, é verdade, favelas de ossos.

Enterramos mal, ponto final. Despachamos mal, ponto final. Não temos nenhuma educação. Meu Deus, morrem fora da escola as nossas crianças. Lá não, até nisso são cuidadosos e desenvolvidos. Estão na escola crianças que matam outras crianças. As mortes são psicológicas, nada reais. Assassinos, heróis de guerra, neuróticos por efeitos especiais.

Quis perguntar onde o marido dela foi enterrado. Não perguntei, nem ela me disse. Mas pra quê?

Donos da terra, só os americanos descansam em paz.

Caminhos - Raul Seixas

Caminhos

Voce me pergunta aonde eu quero chegar
Se há tantos caminhos na vida
E pouca esperança no ar e até a gaivota que voa
Já tem o seu caminho no ar
O caminho do fogo é a água,
o caminho do barco é o porto,
o do sangue é o chicote,
o caminho do reto é o torto.
O caminho do bruxo é a nuvem,
o da nuvem é o espaço,
o da luz é o túnel,
o caminho da fera é o laço.
O caminho da mão é o punhal,
o do santo é o deserto,
o do carro é o sinal,
o do errado é o certo.
O caminho do verde é o cinzento,
o do amor é o destino,
o do sexto é o cento,
o caminho do velho é o menino.
O da agua é a sede,
o caminhodo frio é o inverno,
o do peixe é a rede,
o do frio é o inferno.
O caminho do risco é o sucesso,
o do acaso é a sorte,
o da dor é o amigo,
o caminho da vida é a morte.

Caminhos II

Assim como
Todas as portas são diferentes
Aparentemente
Todos os caminhos são diferentes
Mas vão dar todos no mesmo lugar
Sim

O caminho do fogo é a água
Assim como
O caminho do barco é o porto
O caminho do sangue é o chicote
Assim como
O caminho do reto é o torto
O caminho do risco é o sucesso
Assim como
O caminho do acaso é a sorte
O caminho da dor é o amigo
O caminho da vida é a morte

E você ainda me pergunta aonde eu quero chegar
Se há tantos caminhos na vida
E pouquíssima esperança no ar e até a gaivota que voa
Já tem o seu caminho no ar
O caminho do risco é o sucesso,
o do acaso é a sorte,
o da dor é o amigo,
o caminho da vida é a morte.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A Palavra - Rubem Braga

Tanto que tenho falado, tanto que tenho escrito _ como não imaginar que, sem querer, feri alguém? Às vezes sinto, numa pessoa que acabo de conhecer, uma hostilidade surda, ou uma reticência de mágoas. Imprudente ofício é este, de viver em voz alta.
Às vezes, também a gente tem o consolo de saber que alguma coisa que se disse por acaso ajudou alguém a se reconciliar consigo mesmo ou com a sua vida de cada dia; a sonhar um pouco, a sentir uma vontade de fazer alguma coisa boa.
Agora sei que outro dia eu disse uma palavra que fez bem a alguém. Nunca saberei que palavra foi; deve ter sido alguma frase espontânea e distraída que eu disse porque senti no momento _ e depois esqueci.
Tenho uma amiga que certa vez ganhou um canário e o canário não cantava. Deram-lhe receitas para fazer o canário cantar; que falasse com ele; cantarolasse; batesse alguma coisa ao piano; que pusesse a gaiola perto quando trabalhasse em sua máquina de costura; que arranjasse para lhe fazer companhia, algum tempo, outro canário cantador; até mesmo que ligasse o rádio alto durante uma transmissão de jogo de futebol... mas o canário não cantava.
Um dia a minha amiga estava sozinha em casa, distraída, e assobiou uma melodia de Beethoven _ e o canário começou a cantar alegremente. Haveria alguma ligação secreta entre a alma do artista e o pequeno pássaro?
Alguma coisa que eu disse distraído _ talvez palavras de algum poeta antigo _ foi despertar melodias esquecidas dentro da alma de alguém. Foi como se a gente soubesse que de repente, num reino distante, uma princesa muito triste tivesse sorrido. E isso fizesse bem ao coração do povo; iluminasse um pouco as suas pobres choupanas e as suas remotas esperanças. (Novembro, 1959)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Férias - Marian Keyes

Sinopse:

Rachel Walsh tem 27 anos e a grande mágoa de calçar 40. Ela namora Luke Costello, um homem que usa calças de couro justas. E é amiga - pode-se mesmo dizer muy amiga - de drogas. Até que a sua vida vai para a Cucuia e ela, na marra, para o Claustro - a versão irlandesa da Clínica Betty Ford. Ela fica uma fera. Afinal, não é magra o bastante para ser uma toxicômana, certo? Mas, olhando para o lado positivo da coisa, esses centros de reabilitação são cheios de banheiras de hidromassagem, academias e artistas semifissurados (ao menos ela assim ouviu dizer). De mais a mais, bem que já está mesmo na hora de tirar umas feriazinhas. Rachel encontra mais homens de meia-idade usando suéteres marrons e sessões de terapia em grupo do que poderia supor a sua vã filosofia.

Trechos do livro:

"Perder um emprego era uma coisa, porque eu sempre poderia conseguir outro. Mas perder um namorado... bem..."

"Já provamos e passamos por tanto, amada, atravessando uma fenda tão larga, que nada nos surpreende mais". - retirado do poema "Advento" de Patrick Kavanagh.

"A vida não andava nada fácil nos últimos tempos. Pouco espaço para manobrar o carro, por assim dizer".

"Olhe para o que as pessoas fazem, não para o que dizem".

quinta-feira, 30 de junho de 2011

O segredo dos seus olhos - Eduardo Sacheri

Sinopse:

Em 'O Segredo dos Seus Olhos', o aposentado Benjamín Chaparro dedica seu tempo a escrever um romance. Em busca de inspiração, ele retorna ao juizado de Buenos Aires onde trabalhava trinta anos antes, no início dos anos 70, e o contato com as salas e corredores de seu passado o faz relembrar um dos momentos mais significativos de sua vida - o inquérito do brutal estupro e assassinato de uma jovem dona de casa, que deixou marcas profundas no cotidiano de toda a repartição.

Trechos do livro:

“Certos sonhos se impõem mesmo aos corações mais céticos”.

“Mas o babaca que deseja subir na vida traz duas dificuldades: para começar, sente-se pleno de energias, cheio de entusiasmo, transbordante de iniciativas. Energias, entusiasmo e iniciativas que lhe brotam como um manancial, e que ele deseja exibir escancaradamente aos seus superiores, para que estes notem finalmente que têm nas mãos um diamante desperdiçado num cargo inferior aos seus merecimentos morais e intelectuais. E aqui se encaixa a outra dificuldade: à ousadia, essa categoria particular de babaca acrescenta a inconsciência. Porque, se acalenta o sonho de ascender, é por acreditar ter méritos pra isso, e pode até chegar a se sentir injustamente tratado pela vida e pelo próximo por lhe negarem essa aspiração que ele considera intrinsecamente legítima. A inconsciência e a audácia, então, tornam o babaca perigoso”.

“Um covarde, acomodado, distraído e que não concluiu seus estudos é como um trem que chegou ao terminal e se defronta com uma daquelas cancelas de madeira e ferro, sinal inequívoco de que daqui você não passa. Tudo é uma questão de disciplina, integridade e modesta força de vontade”.

“Ninguém é capaz de ler, no presente, os sinais de suas futuras tragédias”.

“O sol tem propaganda demais, acho. E por isso me irrita que ele se intrometa nos dias de chuva. Como se o maldito simplesmente não tolerasse que, de vez em quando, quem não o venera como idólatra possa desfrutar de um dia completo”.

“Quando as coisas não podem ser ditas, os olhares se carregam de palavras”.

“Os estúpidos se conservam melhor fisicamente porque não são corroídos pela ansiedade existencial a qual as pessoas mais ou menos lúcidas se veem submetidas”.

“Todos somos covardes, pensei, é questão apenas de nos atemorizarem o suficiente”.

“A gente vê muitas coisas quando vai a lugar nenhum”.

“Às vezes é assombroso o mal que podemos causar, sem termos a intenção”.

“Se agora estão em silêncio, se agora no silêncio estão se interrogando, se não quebram o silêncio no qual estão se interrogando com um sorriso mudo, é porque nada os retém ali exceto isso, exceto estarem simplesmente um diante do outro, deixando passar o tempo sem outro objetivo que não o de se manterem próximos, e isso é o bonito de se interrogarem em silêncio”.

“Às vezes nós homens nos sentimos mais seguros por trás de certa frieza ao tratar aqueles a quem amamos”.

“Às vezes a vida encontra caminhos estranhos para resolver nossos enigmas”.

“As lembranças nunca voltam sozinhas. Sempre retornam em grupo”.

“Um divórcio perfeito entre as palavras e a dor, uma pitada de ironia, uma melancolia sincera sem as hesitações da autocompaixão”.

domingo, 5 de junho de 2011

A Última Música - Nicholas Sparks

Aos dezessete anos, Verônica Miller, ou simplesmente Ronnie, vê sua vida virar de cabeça para baixo quando seus pais se divorciam e seu pai decide ir para a praia de Wrightsville, na Carolina do Norte. Três anos depois, ela continua magoada e distante dos pais, particularmente do pai. Entretanto, sua mãe decide que seria melhor os filhos passarem as férias de verão com o pai na Carolina do Norte. O pai de Ronnie, ex-pianista, vive tranquilamente na cidade costeira, absorto na criação de uma obra de arte que será a peça central da igreja local. Ressentida e revoltada, Ronnie rejeita toda e qualquer tentativa de aproximação do pai e ameaça voltar para Nova York antes do verão acabar. É quando Ronnie conhece Will, o garoto mais popular da cidade, e conforme vai baixando a guarda, começa a apaixonar-se profundamente por ele, abrindo-se para uma nova experiência que lhe proporcionará uma imensa felicidade - e dor - jamais sentida.



Trechos do livro:

"A verdade só tem significado quando é difícil de ser admitida".

"Mas quando o Espírito Santo controla nossa vida, produzirá os seguintes frutos em nós: amor, alegria, paz, paciência, gentileza, bondade, delicadeza e autocontrole".

"A voz de Deus é geralmente nada mais que um suspiro; e você tem que estar muito atenta para conseguir ouvi-la".

"A vida é bem parecida com uma música. No começo, há mistério, e no final confirmação, mas é no meio que reside a emoção e faz com que a coisa toda valha a pena".

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Um amor exclusivo


... na vida, a qualquer momento, sempre há exatamente três possibilidades à disposição: pode-se agir e fazer algo, deixar as coisas como estão ou cometer suicídio.”

E, repentinamente, também consigo entender o tipo de amor da minha avó, tão exclusivo, tão carente, tão grande e, no fim das contas, cheio de condições: prove-me que eu também posso estar enganada; prove-me que mesmo assim vale a pena gostar de mim, aí eu sempre estarei do seu lado, eu seguirei você até em caso de morte.

E, repentinamente, também consigo imaginar o porquê de ela não querer viver sem ele, porque ela decidiu morrer junto com ele.”


Sobre a tradução...

Meu último livro de cabeceira foi Um amor exclusivo (Eine exklusive Liebe), romance de estreia da autora Johanna Adorján, lançado no Brasil em março deste ano.

Meus comentários começam logo em Breves Notas de Tradução, onde o tradutor responsável pela obra, Marco Aurelio Schaumloeffel, relata sua experiência ao traduzir uma obra que como ele mesmo diz “exigiu cuidado e pesquisa de aspectos históricos e peculiaridades linguísticas”. É a primeira vez que vejo uma nota de tradução no início de um livro. Achei interessantíssimo saber como foi para o tradutor ter em mãos a responsabilidade de traduzir para nossa língua uma nova cultura e como é o envolvimento desse profissional com seu trabalho. Parece que me fez entender um pouco mais a história, ou talvez observar com mais atenção as tais peculiaridades, ou quem sabe, isso seja apenas curiosidade de uma estudante de Letras (transcrevo seu comentário em outro link nesse blog).

Sobre a história...

O livro conta a história de Vera, 71 anos, gozava de boa saúde; e István, 82 anos, sofria de uma doença terminal. Húngaros residentes na Dinamarca, estavam casados há quase meio século e são incrivelmente bonitos e elegantes. Ambos suportaram os horrores do Holocausto e do Regime Comunista, mas não puderam suportar a ideia de que a morte dele iria separá-los. Assim, no dia 13 de outubro de 1991, os dois cometem suicídio: morrem juntos na sua cama, de mãos dadas.

O romance começa da forma mais objetiva possível: “No dia 13 de outubro de 1991, os meus avós cometeram suicídio”. Johanna Adorján, autora do livro, é neta de Vera e István. Ela diz, em entrevista à revista norte-americana Smith (traduzida e publicada nesse blog), que a motivação para escrever sobre a morte de seus avós surgiu através do desejo de poder imaginar, da maneira mais precisa, como teria sido o último dia de suas vidas. Ela tentou a cada momento se colocar no lugar deles, ter as mesmas sensações que tiveram, porque aquilo que estava escrevendo não era ficção. Apesar de grande parte da história ter sido criada por sua imaginação, esta tinha seu embasamento em fatos. E assim, a cada página, Johanna tenta explicar onde está na história.

Sobre o livro...

Apesar de se sentir triste ao final do livro, é notável que a história não tem que parecer triste. Isso foi bom para eles. Eles terminaram a vida como queriam e quando queriam.

Mas a história não levanta apenas questões de amor ou suicídio. Eu mesma me peguei pensando em como teria sido a vida das minhas avós, já que não conheci meus avôs. E é de fato um mistério. Nunca sabemos tudo. Johanna diz em um trecho: “Eu não acredito que a minha avó tivesse consciência do impacto de suas atitudes. Eu acredito que ela se achava uma mulher elegante, interessante, decente e simpática, que gostava de cozinhar e assar coisas no forno, que gostava de ir à opera. Mas, afinal de contas, o que se sabe de fato sobre a avó da gente?”.

Johanna também faz referências sobre o idioma húngaro: “Na volta, quando caminho para meu hotel, escuto as pessoas, a forma como elas todas todas falam húngaro nas ruas, e mais uma vez penso quanto gosto da língua, mesmo que não entenda uma palavra sequer. O seu som, o ritmo claudicante que se dá pela entonação da primeira sílaba das palavras, as várias vogais fechadas, tudo isso tem efeito tranquilizador e de confiança sobre mim, como se fosse uma canção de ninar da minha infância”.

Em certo momento, como vocês poderão conferir na entrevista, Johanna começa a se identificar com sua avó: “Como se diz em inglês: 'It does ring a bell'. Isso acende uma luz em mim, me traz algo à lembrança, me parece familiar. O sentimento mais profundo que eu conheço é o de não pertencimento. É o sentimento com o qual cresci. Não é um sentimento muito legal, na verdade eu nem sei de onde ele vem. Já desde as primeiras coisas que ainda consigo lembrar como criança, eu tenho a sensação de a minha presença estar atrapalhando. Como se todos estivessem mais felizes sem mim. […] Ninguém me ama, não é possível me amar. Esta é a minha mais profunda convicção e, ao mesmo tempo, o meu maior medo. Se eu a seguir até o seu ponto mais profundo, ela me leva ao sentimento que me é mais familiar do que qualquer outro: eu estou completamente sozinha.”

Sobre Budapeste e o holocausto...

Um amor exclusivo desperta no leitor o desejo de viajar pelas calçadas da história de Budapeste, assim como fez Chico Buarque em seu romance que leva o nome da cidade. Budapeste é a capital húngara, cidade de muitas origens e, portanto, cheia de diversidades, presentes nos costumes e tradições culturais.

Até 1873, Buda e Peste eram duas cidades autônomas. Suas origens datam do século I, quando os romanos estabeleceram fortificações na região para conter o avanço dos bárbaros que ameaçavam Roma.

No século XV, Buda já era um centro de renome na Europa, porém os anos seguintes foram marcados por guerras e opressão.

De 1526 até a queda do muro de Berlim a Hungria passou por inúmeras invasões: esteve em poder dos Turcos, fez parte do império Austro-Húngaro, foi invadida por Hitler e depois controlada por Moscou. Com uma história tão sofrida, os húngaros são orgulhosos de seu país e conseguiram manter uma identidade própria.

Quando relata parte do que supostamente seus avós teriam sofrido com o Holocausto, Johanna cita um provérbio húngaro: “Não interessa quanto você possui, sempre é possível ter mais – não interessa quão bom algo é, sempre poderia ser melhor”. E assim a autora deixa o leitor a par da realidade do holocausto para os húngaros: “É... assim as coisas também podem ter acontecido. O holocausto está na ordem do dia, os judeus são transportados às centenas e aos milhares em trens para Auschwitz e mortos em câmaras de gás – e outros conhecem a pessoa certa que lhes providencia passaportes falsos e encontram tempo para brigar com os pais sobre coisas bem normais do cotidiano”.

Como Budapeste entendia suas crises políticas? O pai de Johanna diz:

- Havia uma piada naquela época: dois húngaros se encontram. Um deles diz: - Cara, eu estou indo para o instituto da visão e da audição. - O outro diz: - Aha, e o que é esse instituto? - Em seguida, o primeiro diz: - Pois é, eu espero que eles possam me ajudar lá, pois eu não vejo o que eu escuto. - Era disso que as pessoas riam na Budapeste daquela época”.

Considerações finais...

Paro por aqui. Não quero revelar tudo sobre Um amor exclusivo, nem tudo que penso que sei sobre Johanna Adorján. Apenas deixo registrado alguns aspectos que se mostraram o tempo todo relevantes para mim: ainda existem amores exclusivos, em algum lugar do mundo. Nossos avós são pérolas que muitas vezes deixamos para apreciar apenas em fotografias. Budapeste deveria estar no circuito de turismo da Europa, assim como está Londres, Paris, Madri e etc. É muito bom terminar um livro com a sensação de que aprendi algo novo. Obrigada Johanna!