segunda-feira, 23 de abril de 2012

Soneto de Gregório de Matos


Jorge Amado

".... um dia vale anos
A semana tem medida de um século
Só tenho pena
de não me restar
o tempo necessário
para ver em que
tudo isso vai dar".


sexta-feira, 2 de março de 2012

UM HOMEM DE SORTE - Nicholas Sparks


"Os amigos vão e vêm, as malas são feitas e desfeitas, a casa possui somente o estritamente necessário e, assim, não há muito que fique de significativo. Ensina-os que mesmo que algumas pessoas sejam deixadas para trás, outras inevitavelmente pegarão seu lugar e que todo lugar tem aspectos positivos e negativos a oferecer. Isso obriga uma criança a amadurecer precocemente."




"Às vezes as coisas mais ordinárias podem transformar-se em extraordinárias, simplesmente se realizadas pelas pessoas certas."

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O AMOR ACABA - Paulo Mendes Campos

O amor acaba.

Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova York; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

FURACÃO ELIS - Regina Echeverria

Sinopse:

Regina Echeverria conviveu com a cantora e conta que "numa tarde morna à beira da piscina de sua casa da Cantareira, Elis e eu conversamos longamente sobre a vida e o futuro. Combinamos ali que eu poderia escrever, algum dia, um livro sobre ela. (...) Afinal, resolvi contar a história de uma pessoa controvertida, uma mulher para quem a vida estava dividida em oito ou oitenta, amor ou ódio. (...) Esta é a história de Elis Regina Carvalho Costa que eu conheci. Por favor, me contem outras."



Trechos do livro:

Bossa nova, para a linguagem do jazz, era cool. A voz de Elis era hot. Diferente.
Como água e vinho.

"Eu a achei muito talentosa e muito vulgar. Fiquei impressionado. Essa mulher é uma coisa incrível. Mas ela fazia aqueles gestos, aquela dança marcadinha. E, como eu era bossa-novista, era muito João Gilberto, aquela coisa cool e de bom gosto e cores mais discretas; Elis me pareceu cafona, mas cheia de talento." Caetano Veloso

"Hoje em dia sei muito bem como é para um grande artista assumir a importância inteira de uma época na sua pessoa. Eu sei como é esse tormento, essa dualidade profunda que se instala numa pessoa pública, famosa, que detém o poder de alguma ordem. É a luta entre o ímpeto de ser importante e o ímpeto de ser feliz." Gilberto Gil

"Você sabe lá o que é, com 20 anos, sair para a rua e ser reconhecida? Você fica louca, se achando Deus." Elis Regina

"Uma menina simples, que não tinha dinheiro praticamente nem para comer, e começou aquele sucesso, aquele pessoal se aproximando, a Elis ficava irritada com tudo aquilo. Ela achava que todo mundo que se aproximava dela era para se aproveitar. Muitas vezes ela tinha um ataque (...)." Jair Rodrigues

"Eu sempre falei pra ela:
- Ô, baixinha, em cima do palco você fica com trocentos metros de altura.
Eu via a Elis profissional, ela passava uma música 10, 20 vezes, quantas fossem necessárias. Muitos músicos vinham reclamar:
- Pô, o que a Elis quer? Essa mulher tem mania de perfeição!
Ela não mudava o que estava ensaiado. De jeito nenhum. Ai de um músico se fizesse um acorde errado ou entrasse fora da hora. Ela olhava feio." Jair Rodrigues

"Elis tocava a vida de ouvido. A gente dizia uma coisa para ela, ela dava a volta e, pouco depois, já começava a ensinaro que tinha aprendido. Acho que as pessoas que não têm uma estrutura básica sentem ódio das testemunhas, e eu era uma testemunha de Elis. Isso criou ressentimento, ódio, como se ela dissesse: 'Esse cara me viu na merda'. As testemunhas são perigosas." Ronaldo Bôscoli

"Essa doce pessoa que deve estar nos ouvindo agora era mesmo assim. Não conheci ninguém mais inteligente. A inteligência, a meu ver, tem vários escaninhos. Mas o imediatismo, a capacidade de adaptação e de acuidade, a sensibilidade de Elis eram coisas que encantavam qualquer pessoa. Todos ficavam deslumbrados com ela, porque, de repente, cometia uns erros de português babacas, mas num texto que tenho a impressão de que Fernando Pessoa assinaria. Maravilhosa." Ronaldo Bôscoli

"Comigo é simples, eu divido tudo: minhas roupas, meus amigos... Mas o meu palco, esse não divido." Elis Regina

"Ela queria aprender, queria ir com sua geração para um lugar que não conhecia, queria ampliar seus limites, abrir seus horizontes, seu coração e sua voz." Nelson Motta

"Continuo não querendo conhecer gente que eu não conheço." Elis Regina

"Elis, eu tomei o ônibus pra ir a São Paulo ver seu show. Que bom que seja em São Paulo. Fui porque pensava que esse show seria o que eu sonhava pra você. Mas é mais que isso porque 'viver é melhor do que sonhar'. E eu gostei muito de você cantando a canção que diz isso. Eu gostei muito, muito de ouvir você cantando tudo. Gracias a la vida. Eu fiquei doce e besteirão quando o show terminou. E meditei. Não tenho medo. O show business é um bicho-papão muito bonito, e você engole ele: essa é a mensagem que você passa pra todos os seus colegas de profissão." Caetano Veloso




quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

FELIZ ANO VELHO - Marcelo Rubens Paiva

Sinopse:

Publicado originalmente em 1982, este livro é um relato do acidente que deixou Marcelo Ruben Paiva tetraplégico, poucos dias antes do Natal de 1979. Jovem paulista de classe média alta, vida boa, muitas namoradas, ele vê sua vida se transformar num pesadelo em questão de segundos. Durante um passeio com um grupo de amigos, Marcelo resolve dar um mergulho no lago. Meio metro de profundidade. Uma vértebra quebrada. O corpo não responde. Começa ali, naquele mergulho, a história de 'Feliz Ano Velho'. Apesar do tema trágico, 'Feliz Ano Velho' tem momentos de humor, ternura e erotismo. Marcelo se encarrega de colocar em palavras a relação de amor e respeito à mãe, o carinho das irmãs, a camaradagem e o encorajamento da turma, as festas e fantasias sexuais.

Trechos do livro:

Sobre o Natal, Cristo, coragem e amor...

"Fiquei contente com as pessoas. Elas queriam, e conseguiram, transmitir uma felicidade, um espírito de Natal, um vamos-nos-dar-as-mãos que me deixou emocionado. Nunca fui muito de Natal, exceto quando criança, óbvio. Mas aquele dia a música me deixou feliz, feliz por saber que jamais teria outro Natal tão triste como aquele. Por saber, também, que, apesar de tudo, ainda existia Natal. E descobri que Natal é isso mesmo. Por que não um momento de ternura e amizade com as outras pessoas, mesmo levando uma vida fodida o ano inteiro? Estamos todos na mesma. Não sejamos tão egocêntricos a ponto de querer, quando estamos mal, que esteja todo o mundo péssimo. Foi o nascimento de um cara incrível, de um revolucionário que lembrou às pessoas que, acima do poder, o amor e a felicidade são mais importantes. E que poderemos construir um mundo melhor. Então, é um dia em que temos a oportunidade de renascermos em nós mesmos. De brilhar, de ser gente. Lutar por aquilo que desejamos, defender a nossa condição de homem. E como disse o poeta: 'Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome'.
De Cristo eu gosto. Pena que manipularam pra tanta babaquice. Pra começar, dizer que ele é filho de deus. Que besteira. Será que o homem é tão incapaz de se dar valor a ponto de achar que, quando outro homem é genial, tem que ser do outro mundo? Que nada, Jesus era tão homem quanto eu."

"Engraçado que eu não tinha coragem nenhuma, simplesmente não podia fazer outra coisa senão enfrentar."

"Frustrante não conseguir falar de amor. É o motor básico das relações humanas. É a vida, é a paz."

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Quando chegar aos 30...



Quando chegar aos 30

serei uma mulher de verdade
nem Amélia nem ninguém
um belo futuro pela frente
e um pouco mais de calma talvez

e quando chegar aos 50
serei livre, linda e forte
terei gente boa ao lado
saberei um pouco mais do amor
e da vida quem sabe

e quando chegar aos 90
já sem força, sem futuro, sem idade
vou fazer uma festa de prazer
convidar todos que amei
registrar tudo que sei
e morrer de saudade.

Martha Medeiros